Monday, March 31, 2014

EXCERTOS DE "BISSAULONIA"


MEU PROXIMO LIVRO "BISSAULONIA"



DUAS PALAVRAS SOBRE “BISSAULONIA”.
“Bissaulonia” é o título escolhido para este livro onde, entre outras coisas, procuro fazer uma pequena homenagem a todo o simpático povo da Guiné Bissau, terra onde vivi cerca de 14 anos e ½ e onde, apesar de vários "dissabores" e dificuldades de toda a ordem, passei os dias mais felizes da minha vida. De facto, e apesar de viver nos Estados Unidos há cerca de 33 anos, á data de Abril de 2014, ainda está para chegar o 1º dia em que, aqui nos EUA - socialmente falando - possa ser considerado mais bem passado que qualquer dos dias que passei na Guiné, antes ou depois da independência, mesmo no período de guerra, “graças” - diria eu – á simpatia do  povo da Guiné e á “magia” ambiental que a própria terra nos oferece, o qual, tanto o povo como a terra, não posso de deixar de recordar, com muito carinho e profunda saudade.

Uma terra onde “um não sei quê de mítico”, parece apoderar-se das nossas almas, sem nos darmos conta, deixando-nos como que “enfeitiçados” pelo carisma e amizade espontânea de que somos alvo, mesmo que sejamos desconhecidos. Uma terra onde, “ter dinheiro será por certo sempre agradável mas, ter amizade é muito melhor ainda. Uma terra onde, quando se oferece algo a alguém, se recebe em troca muito mais, na forma de amizade. Uma terra onde, se um carro avaria no meio da floresta, logo aparecem “mãos magicas” e esforçadas, vindas não se sabe de onde, para ajudar. Uma terra onde, o “ser humano está mais perto de si mesmo, sendo, por isso, mais humano. Uma terra onde, a miséria é riqueza! Outro tipo de riqueza mas que, nem por isso deixa de ser riqueza. A riqueza da amizade; a riqueza da compreensão; a riqueza da entreajuda; a riqueza imaterialista e inocente; a riqueza dos seres humanos; no fundo, a riqueza dos pobres que, em conjunto com a abundancia do Sol de Inverno e as chuvas de Verão, formam um complemento de uma riqueza natural, á esperta do despertar “milagroso do progresso”, na esperança de melhores dias, para o bem-estar de todo o povo guineense que, aqui nestas linhas, carinhosamente “rebaptizo” como povo “Bissauloniano”, juntando muitos votos de p.p.p. a todos!

Paz! Progresso! Persistência!

Mário Tito.

DECLARAÇÃO
Aqui, nestas linhas, não procuro justificar actos de ninguém. Nem os meus nem os dos outros. Tão-pouco procuro acusar quem quer que seja. Somente procuro relatar factos e episódios reais. Não procuro ser perfeito e exacto, embora procurando ser o mais concreto e objectivo possível, nos tópicos em questão. Não procuro corrigir o passado, nem tentar mudar o futuro. Procuro opinar livremente com a verdade, tal e qual como é vista por mim, numa tentativa de poder preservar a “amizade e a compreensão”, entre os povos envolvidos.
No entanto, reeconheço que, o uso de algumas frases aparentemente menos elogiosas, poderão parecer ser “ofensivas” para alguns dos leitores, embora não seja essa a minha intenção. No entanto, se tal suceder, chamo a atenção dos leitores para o facto que, tais “frases” só se encaixarão  a alguns dos “objectivados” se, as suas atitudes e acções destes tidas ou feitas na ocasião, se enquadrarem na descrição das mesmas frases. Repito que… esta não é a minha intenção porque, se houver algo ou alguém a condenar, que sejam os outros fazê-lo e não eu.
 
O meu “turno” acabou num longínquo dia de agosto de 1981, a bordo do avião da TAP, acabado de levantar voo de Bissau, quando da minha última saída da terra que considerava - e considero ainda - a minha segunda Pátria e que, com uma sensação estranha invadindo todo o meu ser, algumas lagrimas furtivas nos olhos, junto com um nó na garganta e um aperto no peito, tentava ser forte, numa tentativa de esconder as saudades que já se faziam presentes, mesmo que tivesse apenas uns escassos minutos apos a partida para sempre.
 
Quisera que assim nao tivesse sido, ams foi!
Saudades da terra onde fui feliz. Saudades da terra onde, a esperança, um dia foi minha companheira de decisões menos certas, mas que, na ocasião, por acreditar nas novas autoridades, foram tomadas. Saudades da terra onde nasceu a minha querida e única filha. No fundo, saudades da amizade e simpatia de que fui alvo por parte da maioria do povo da Guiné, com o qual convivi e que, com o tempo se foram acumulando, deixando aos destinos da vida, a circunstancia de nunca mais lá ter regressado.
Assim é, porque assim foi!

No entanto, e continuando a tentar justificar qualquer possível interpretação sobres as referidas “frases”, permito-me dizer que, tratando-se de desabafar e relatar certos episódios – e em nome da verdade – espero a compreensão da maioria dos leitores que,  dizendo a verdade, sou forçado a referir que, a ingratidão; a arrogância; a prepotência e o abuso, prática de alguns elementos empoleirados no poder na ocasião dos acontecimentos descritos - se bem que não deva ser “mapiado” como a norma existente num país ou num povo - não poderei de modo algum deixar de recriminar os autores de tais atitudes para comigo, considerando a forma como eu tinha lidado com as populações locais, até ali.
 
Neste ponto, considero que, os autores de tais actos, pela sua total falta de preparação para decifrarem “o bom do mau”, e pela “fraqueza da sua razão”, faziam-se fortes através da sua arrogância. Sempre assim foi e, lamentavelmente, tudo indica que sempre assim será, nos quatro quadrantes do mundo. Por ser verdade, assim o declaro, mantendo a minha intenção inicial em prol da amizade e compreensão, ilibando os inocentes que, felizmente, foram e são a maioria.

Com isto, convido os leitores a lerem estas linhas com uma mentalidade “aberta e sóbria”, livre de qualquer preconceito racial.
 

Sinceramente,

Mário Tito.
OBJECTIVO

A intenção destas linhas, tem como objectivo principal, satisfazer um pedido de vários ex-camaradas de armas, os quais, na sua grande maioria, prestaram serviço militar, na então chamada Guiné Portuguesa, hoje um novo país, conhecido como Guiné Bissau.
Uma das razões, assenta no facto que, enquanto muitos destes meus camaradas fizeram uma comissão de serviço (1) que, normalmente, rondaria os 24 meses, sabe-se lá em que local do teatro de guerra, quantas vezes em risco constante da própria vida, eu, considerando-me um “sortudo”, que nem uma pistola tive distribuída, acabei por ficar na Guiné, após cumprida a minha comissão de 19 meses e 10 dias bem contados, com “risquinhos” mensais e tudo, no cinto – cópia fiel do uso e costumes de outros camaradas de armas – ao serviço da Força Aérea Portuguesa, inicialmente destacado na messe de sargentos e, posteriormente, na messe de oficias, no coração da cidade de Bissau.
Entretanto, á medida que o tempo ia passando, eu fui adquirindo uma certa simpatia pelos guineenses, devido ao carinho que os mesmos demonstravam ter para comigo, tanto na messe de sargentos, por onde tinha passado no 1º mês, logo após a minha chegada á Guiné, como na de oficiais, onde me encontrava na ocasião de passar á disponibilidade, ao ponto de, já na recta final da minha comissão, insistirem para que eu não regressasse á “Metrópole” - tal como era denominado na ocasião, o nosso querido Portugal.
Portanto, perante esta “onda de carinho” e, perante uma boa oportunidade de emprego que, entretanto, tinha surgido num novo local, previsto a abrir nos dias próximos á minha passagem “á disponibilidade”, (a cervejaria-restaurante Sol-mar) decidi mesmo não regressar a Portugal, mesmo que fosse na intenção de ser somente temporariamente, por um par de meses, enquanto endireitava as minhas finanças que, cá para nós, andavam pelas “ruas da amargura” e, até, com alguns “calotes” ás costas.
Entretanto, “o par de meses”, e intenção temporária, acabou por se transformar em cerca de catorze anos e meio, proporcionando-me a oportunidade de ser “testemunha” voluntária (2) do desenrolar de vários acontecimentos, nunca ao alcance destes meus camaradas.
No entanto, apesar de ter havido “episódios” espalhados por toda a Guiné, obviamente, só me é possível referir, aos episódios “centralizados” na área de Bissau e vizinhanças limítrofes, tendo em consideração que, era aí que eu me encontrava, “abrangendo” parte do período de guerra, desde a minha chegada a 17 de Maio de 1967, até ao dia da independência da Guiné, oportunidade que só os presentes na ocasião, puderam testemunhar – uns num local e outros noutro. Uns de uma forma e outros doutra. Eu, como já disse, estava em Bissau.

Portanto, no que me diz respeito, além do período pré independência que refiro, tive a oportunidade de assistir – para bem ou para o mal – a toda uma mudança da conjuntura social e política que passou a vigorar na Guiné, após a independência e durante cerca de 7 anos depois. De facto, só saí definitivamente da Guiné, em Agosto de 1981. Como tal, desde Setembro de 1974 a Agosto de 1981, são quase 7 anos, como já disse. Seis anos e 11 meses, mais precisamente.
Deste modo, perante esta certeza e estes factos, creio ser mais que lógico a existência de uma certa “curiosidade” por parte destes meus camaradas, em quererem saber como “foi aquilo” depois da partida deles ou, mais englobante, como “foi aquilo”, depois da independência.

É pois, com grande prazer pessoal, que tenho a honra de tentar satisfazer esta curiosidade, relatando o que quer que seja que haja a relatar, o mais realisticamente possível e o melhor que a minha memória me permite, pedindo desculpa a todos, se acaso não consigo satisfazer cabalmente a totalidade das vossas expectativas. Aqui, nestas linhas, só digo o que sei e o que penso estar correcto, mesmo debaixo de alguma imperfeição humana.
Deste modo, com um fraternal abraço a todos os ex-camaradas viventes e, aos que já partiram para “o jardim dos justos”, que a terra lhes seja leve e o sorriso das flores os embale e ilumine, no seu “sono eterno”.

Para a vida e para a morte, sou o sempre vosso fiel camarada, Mário Serra Oliveira - 1º Cabo amanuense nº 262/66 – ZACVG.

   Mário Tito

RECONHECIMENTO
Seguidamente, e por respeito para com o meu semelhante, independentemente de pontos de vista políticos e acções do passado, sinto-me com o dever cívico, de prestar uma homenagem de reconhecimento, a alguns elementos do PAIGC que, após a independência da Guiné, fizeram parte do Governo, ou que ocuparam outras posições de liderança naquela ocasião, com os quais tive a oportunidade e o privilégio de conviver – e até servir - atendendo á minha actividade de  comerciante no ramo da restauração, os quais, na sua maioria, de uma forma ou de outra, foram muito atenciosos para comigo (3).

                                      Nem todos, mas uma boa maioria.

Procurarei também, separar o “trigo do joio” entre estes últimos homenageados e outros protagonistas ligados ao PAIGC porque, efectivamente, como já disse, nem todos aqueles com quem convivi – independentemente do cargo que acaso ocupassem na ocasião – usaram a mesma cortesia, o mesmo respeito e a mesma justeza, na suas lides diárias ou ocasionais para com a minha pessoa.
De facto, por parte de alguns destes, aos quais farei referência dos seus actos e atitudes noutra secção destas linhas, se acaso houve algum excesso ou empenho, foi de “abuso e prepotência”, numa tentativa de dificultarem o mais possível a minha vida, bem como a da minha família. O porquê, só eles o saberiam ou, como sempre desconfiei, só eles teriam em mente um determinado objectivo - político ou não - aberrantemente paupérrimo que, quanto a mim seria…que eu desistisse de “remar contra a maré”, e entregasse os meus negócios – gratuitamente – ao estado (4). Este era o objectivo.

Só que se esqueceram de ter em conta o “material” de que é feito a minha caixa encefálica, geneticamente herdada da “forma de ser” da minha querida mãe, de uma índole indomável, perante a razão e em face da prepotência mas, ao mesmo tempo, capaz de tirar a camisa do corpo para dar ao seu semelhante, se este necessitar e a merecer. De facto, conversando a bem, até talvez fosse possível os objectivos deles serem realizados mas, a mal, nunca. Só morto! 

No entanto, nesta secção, tratando-se de um espaço dedicado a uma homenagem, permitam-me seguir adiante, concentrando-me em alguns dos nomes que considero merecedores de reverência, a quem, com toda a minha sinceridade, presto uma póstuma homenagem aos já falecidos e, aos ainda vivos – se os houver, depois de tantas escaramuças políticas naquela pobre Guiné Bissau – apresento os meus mais profundos e sinceros agradecimentos.
Deste modo, cada qual pelo seu motivo mas, todos pela sua atenção, boas palavras e cortesia, aqui ficam os nomes e cargos que ocupavam na ocasião, de todos os que a minha memória permite recordar com agrado e profundo reconhecimento, pedindo desculpa por se acaso a memória me atraiçoa, esquecendo-me de mencionar algum outro nome.

Temos: - Laurentino Lima Gomes, comissário das obras públicas; Francisco Mendes, também conhecido como “Chico Tê”, 1º ministro, mais tarde assassinado; Armando Ramos, comissário do comércio; José Pereira, comissário da segurança social; Juvêncio Gomes, presidente da camara municipal de Bissau; Victor Saúde Maria, comissário dos negócios estrangeiros; Manuel Saturnino, cuja posição não recordo; Marcelino Lima, director dos armazéns do povo; um tal senhor ou camarada – como lhe queiram chamar - Embaló, cujo nome completo não recordo, director da Dicol (antiga Sacor); José Carlos Schwartz, cuja posição que ocupava desconheço mas que, a título pessoal, era membro do conjunto musical Cobiana Djazz, autor e poeta, falecido num trágico (5) acidente de aviação em Cuba; Carlos Gomes Júnior, (Cadogo), na ocasião, um cliente assíduo igual a tantos outros e que, entretanto, muitos anos depois, foi 1º ministro da Guiné, e outros que, de um modo geral, foram muito corteses para comigo e minha família.
Aos já falecidos, que a terra lhes seja leve. E, aos ainda viventes, aqui fica mais uma vez, o meu sincero e honesto agradecimento por tudo quanto fizeram e disseram, para aliviar as incertezas que “pairavam” no ar a cada instante.

Os nomes daqueles que foram uma espécie de “carrascos” para comigo, não têm lugar aqui nesta secção, em respeito aos acima homenageados, numa tentativa de não misturar “o bom com o mau”, separando com isso, o “trigo do joio”, conforme prometi anteriormente. No entanto, cada qual a seu tempo, será alvo de referência, quando chegar o momento de relatar os episódios em que tristemente estiveram envolvidos contra mim.
Ao mesmo tempo, antes de dar início aos capítulos que irão fazer parte do “corpo principal” deste livro, não poderia deixar de fazer também, uma singela homenagem, a todos os milhares dos meus camaradas ex-combatentes das Forças Armadas de Portugal, que prestaram serviço no chamado “ultramar português” durante as guerras de libertação das ex-colónias, tendo em especial consideração, os milhares de camaradas que, no conjunto geral, uns numa ocasião e outros noutra, passaram pela então chamada Guiné Portuguesa, numa comissão de serviço que, normalmente, rondaria os 24 meses como já disse, a quem estas linhas são dedicadas.

Até lá, aqui fica esta singela homenagem aos que, por bem serviram e, em 1º lugar mais uma vez, todos os meus camaradas de armas e, por bem fazerem, aos acima referenciados. TODOS ELES, por direito e consideração, dignos ILUSTRES desta homenagem.

Sinceramente.

Mário Tito

NOTA DO AUTOR
Aqui, permitam-me referir que, através do progresso da leitura destas linhas, os leitores irão notar que, certos episódios aqui relatados, são descritos numa linguagem sem rodeios e sem preconceito algum, considerando que, ao pretender ser eu mesmo, não hesitarei um segundo em chamar os protagonistas de certos acontecimentos e episódios onde estive envolvido, pelo nome que considero apropriado, reflectivo do meu estado de espírito na ocasião, sem que, com isso, a qualquer referência pessoal a estes indivíduos, seja considerada extensiva a mais alguém, além dos “atingidos” ou referenciados. De modo algum, é minha intenção ofender quem quer que seja, generalizando qualquer “palavra” mais descritiva da minha opinião para com os indivíduos em causa.

Quem mal não me fez,
mal não deve esperar de mim.

Aqui, tudo o que eu disser, é o fruto da emoção da ocasião, perante a incerteza reinante, pela raiva contida dentro de mim, devido á autocrática atitude de alguns dos elementos envolvidos, numa demonstração de ingratidão total para com quem confiou cegamente que, valeria a pena arriscar e ficar por ali, no meio do povo da Guiné, o qual sempre respeitei e respeito profundamente, na esperança que poderia servir de um exemplo de boa convivência, onde os meus serviços fossem úteis e apreciados, esperando como reconhecimento, o respeito e a amizade, nada mais.
Infelizmente, a esperança despertada em mim, quando fiz a decisão que fiz, em ficar por ali, foi atraiçoada, deitada por “água-abaixo”, não por “obra e graça” do povo da Guiné, mas sim por “obra, abuso e prepotência total” de meia dúzia de “energúmenos mal paridos”.  

Como já disse, não procuro “ofender” ninguém, nem tão-pouco, agradar a ninguém. Não tenho “feitio” para fingir, a não ser em casos de extrema gravidade onde, por exemplo, “ao dizer-se a verdade” se possa causar danos ou emoções pessoais irreparáveis. Aqui, nestas linhas, não será esse o caso e, como tal, limitando-me a ser “eu mesmo”, como já disse, não hesitarei um “iota”, em tentar “pegar o touro pelos cornos”.
O touro, aqui, poderá ser considerado a situação de alguns “seres humanos” que, pela sua origem genética, possam ser - ou parecer ser - alvo de possíveis referências menos “elogiosas” da minha parte, devido às circunstâncias da vida, que os colocou na “linha de fogo” dessas possíveis referências, quantas e quantas vezes sem culpa própria de si mesmo. De facto, a existir alguma culpa em relação a alguns desses “indivíduos”, nada terá a ver com a sua “genética ou a sua origem” mas, sim e somente, pela atitude “desses alguns”, através da sua intervenção em episódios vários que, pela sua complexidade, não adianta mencionar aqui, nesta secção.

O que quero dizer com isto, é o facto que, por exemplo, enquanto há pessoas que se “encolhem” em não fazer referências ao aspecto “racial ou étnico”, de uma determinada forma, para não “levantarem pó”, devido á sensitividade relacionada com este aspecto “sociológico” – normal, diria eu – como, por exemplo, “terem acanhamento em “referir-se directamente” que… “preto é preto”, “branco é branco” e, “mestiço é mestiço”, sendo que, na realidade, não deveriam ter preconceito algum nesse aspecto, sempre e quando o respeito seja frontal e norma no trato entre os mesmos… porque, efectivamente, não deixam de ser todos seres humanos, em igualdade de circunstâncias. Havendo respeito de trato, a cor da pele de uns ou de outros, passará para segundo plano ou deixará mesmo de existir por completo, sendo um tema sem significado entre seres humanos que se respeitam. 
Quem faz o caracter do ser humano não é, por certo, a “cor da pele do preto, do branco ou do mestiço” mas, sim, a forma de ser de cada quem, bem como o relacionamento de cada um dos “portadores da cor da pele em questão”, em relação aos outros seres humanos, seja nas lides do dia-a-dia, ou seja pelas suas decisões quando em posição de as tomar, em relação aos “portadores” de uma tese de pele – ou nacionalidade - diferente da sua.

Por isso, qualquer referência, aparentemente “negativa”, que acaso eu venha a fazer aqui, nalgum lado nestas linhas, nada tem a ver com o facto da “pessoa-alvo” dessa referência, seja “preta, branca ou mestiça”. Se refiro “este aspecto” é somente para ir de encontro “á verdade” sobre, “quem, como e porquê”, fez ou deixou de fazer, fosse o que fosse em relação á minha pessoa. As minhas referências, tipo “queixas ou desabafos”, são dirigidas ao ser humano e não “à pigmentação da pele” de quem quer que seja. Qualquer referência á cor da pele, e só isso mesmo. Referência e não acusação.

Que fique bem claro, na mente de todos os leitores.

Depois, há ainda aquelas circunstâncias que leva determinadas pessoas a pensarem que podem “pensar pelos outros” (6), quando, na verdade, é muito possível que, as pessoas sobre quem “estas” pessoas pensam da forma como pensam, poderem vir a pensar totalmente diferente, pensando por si sós…livremente e sem a interferência de estranhos. Confuso? Talvez…mas a culpa não é minha. Pensassem todas as pessoas “razoavelmente” e sem preconceitos, talvez eu não tivesse que fazer este esclarecimento tão pormenorizado.
Com isto, a referência feita mais adiante a pessoas “mestiças” originárias de Cabo Verde, não significa qualquer animosidade para com os “cabo-verdianos” em si mesmo mas, sim e somente, serve para ilustrar um problema existente, amplamente do conhecimento publico, no que concerne ao relacionamento entre “guineenses e cabo-verdianos” na ex. Guiné Portuguesa, agora Guiné Bissau. Mais adiante, os leitores irão ter a oportunidade de se dar conta do que aqui tento explicar.

Mas, levantando um pouco “o véu” sobre o tema, referir-me-ei apenas aquela espécie de “romanticismo” existente ainda nos dias de hoje - de uma forma exagerada quanto a mim - á volta de toda a figura de Amílcar Cabral, proclamado fundador (7) do PAIGC e, principal dinamizador da luta armada para libertação da Guiné e Cabo Verde.

Sim! De facto foi bastante influente
mas, de modo algum foi o único!

Como tal, dando mérito ao seu dono - porque o teve - em nome da verdade, devemos também dar “a Pedro o que é de Pedro, e a Paulo o que é de Paulo” atendendo a que, por muita influência que Amílcar Cabral possa ter tido em todo o processo da luta pela independência da Guiné, o certo foi e é que não foi o único. Factos aos factos. E não foi o único nem poderia ter sido, se considerarmos que, uma “aventura daquelas”, como lutar pela dignidade de um povo, requeria muito mais do que o envolvimento de uma só pessoa. Mas enfim… o que está dito, dito fica. Não serei eu a contradizer esse ponto. Aqui, só dou a minha opinião.  
No entanto, considerando que todos os romances “são bonitos”, o certo é que, na minha opinião, todos pecam pelo exagero na “mistificação” de alguns dos seus personagens principais. Porquê? Pois, em parte porque, nenhum destes personagens foram ou são “perfeitos seres humanos” e, como tal, poderão estar recheados de imperfeições e julgamentos menos afortunados, completamente fora da realidade (8). E, aqui, Amílcar Cabral não deveria escapar a esta regra d’ouro que, por não ser da minha autoria, deverá ser aplicável a todo o ser humano. 

Finalmente, nesta nota, permitam-me referir também que, pela minha educação (4ª classe, á idade de 11 anos e, mais tarde, já com cerca de 50 anos, a equivalência ao 12º grau, sem cursos superiores… além do “mestrado” da mundialmente afamada universidade da “pdv – creio que, se juntarmos a isso, a longa ausência da “Mãe Pátria”, os leitores não deveriam esperar de mim, que vos apresentasse aqui um texto sem erros verbais ou literários.
Mais! Atrevo-me a dizer que, até seria um erro, se erros aqui não houvesse porque, conforme diz um dos meus “slogans”...

a minha imperfeição,
é o que faz de mim, um perfeito cidadão”.

Deste modo, sendo cronologicamente o 5º filho, de um conjunto de sete, de uma das famílias mais pobres da minha aldeia – o Alcaide, situado na encosta Norte da serra da Gardunha, “capital da minha constante saudade e sombra que me acompanha 24 horas por dia” - qualquer expectativa, por parte dos leitores, de virem aqui encontrar uma linguagem “polida”, com frases compostas para “agradar á plateia” e, portanto, uma linguagem “falsa e disfarçada” das mazelas literárias do autor, sem “defeitos linguísticos”, estão redondamente enganados.
Aqui, tal como numa feira de burros… “o animal que vêem, é o animal que compram” porque, para mais não deram, e só a tanto chegaram, os meus parcos conhecimentos. Tudo o que aqui for escrito, será só e somente da minha responsabilidade, sem interferência alguma de outrem, (9) tanto para o bem como para o mal.

De um modo geral, o que aqui for escrito, reflecte o que a linha de pensamento do “meu ser” exige que escreva, saindo “directamente” das profundezas das minhas entranhas, às vezes… sentindo raiva de mim próprio, perante tanta “falta de saber” mas que, no fundo, me deixa feliz da vida, pela teimosia em insistir e “atrever-me”, a mais uma aventura literária, para a qual sinto que nasci mas que, as “fortunas da vida” não me prepararam convenientemente.

É, como tentar “remar” contra a maré,
sem marinheiro nunca ter sido.

Permitam-me recordar ainda que, o meu 1º livro, solo da minha autoria, já foi publicado pela editora do Chiado, cujo título é…. “Palavras de um defunto, antes de o ser”. É um livro misto, baseado em episódios de ficção e factos factuais, descritos de uma forma humorística. E, á data destas linhas, participei ainda, de uma forma conjunta – como co-autor – em três outros livros de poesia, publicados pelas editoras “edições e-copy” o 1º e, editora do chiado, o 2º e 3º. É tudo, nesta nota.

Mário Tito

INTRODUÇÃO

Conforme o título deste livro indica, a cidade de Bissau é a protagonista-principal, sobre a qual, o titulo deste livro foi inspirado, tendo como referencia os períodos de “antes e depois da independência”, em relação às mudanças “visualizadas” pela minha pessoa, no que concerne á composição da “textura humana” da cidade, desde a data da minha chegada a 17 de Maio de 1967, e o período pós independência – 10 de Setembro de 1974 - sem que, com isso, me venha a envolver demasiado a descrever todo o passado da mesma, nem tão-pouco descrever a origem dos vários povos que ocuparam a zona da ilha de Bissau, anteriormente á chegada dos portugueses, incluindo episódios de resistência desde o início da ocupação do território, que é hoje conhecido como Guiné Bissau.
Este aspecto, se bem que, aqui e ali, poderá ser alvo de alguma referência, não faz parte da minha intenção inicial. E, se acaso alguma referência vier a fazer, será mais para “realçar” qualquer outro ponto que queira chamar á atenção, tal como o facto que, na verdade, vários foram os povos que “povoaram a Guiné Bissau” e que, periodicamente travaram lutas entre si, incluindo a união de forças contra o último dos ocupantes - os portugueses. De facto, quase que se poderia dizer que, desde a chegada dos portugueses, sempre existiu alguma determinada forma de “resistência”.
O título, é ainda inspirado na “base” das drásticas mudanças feitas pelas autoridades locais pós independência, com decretos e leis desconhecidas de todos - excepto os que as decretaram, até serem implementadas de um modo “punitivo”, sem qualquer condescendência pelo desconhecimento de tais leis, com um impacto tremendo no dia-a-dia da vida quotidiana e financeira de cada quem, logo após a independência, em detrimento do modo de vida local, bem como nas perspectivas de se poder exercer uma actividade comercial livre e promissora, que incutisse esperança no futuro.
Contudo, e dando seguimento, a ideia deste livro tem por base a descrição de Bissau, perante a minha própria percepção ou óptica visual de modesto observador, adquirida logo aquando da minha chegada á Guiné, em comparação com a radical transformação notada, após a independência. Mas, francamente, reconheço que até poderei cometer algum erro de análise na minha “observância”, quando comparada com o título que escolhi para este livro, pelo que, se assim for, mais uma vez junto a “referência feita antes” na nota de autor, onde tento alertar para qualquer imperfeição literária, considerando a minha pobre preparação nestes “meandros” de escrever para o público. 
Entretanto, como irão notar, eu irei recorrer por mais que uma vez, a frases de chamada de atenção para determinadas datas, tal como dizer… “estamos na data tal e tal, do ano tal”, devido a que, o desenrolar da descrição de certos episódios, se entrecruza com outros de mais prioridade ou necessitados de uma explicação mais pormenorizada. E, quando assim acontece, é possível que o episodio deixado para trás, não seja terminado no mesmo capítulo onde teve início.

Faço esta mudança, na intenção de não “enredar o leitor” na leitura de “dois temas” ao mesmo tempo, correndo o risco de ficar perdido no meio da leitura do que quer que seja e, com isso, não se encaixar bem nos episódios em discussão. Sinceramente, penso que com o uso de “chamada de atenção” para determinadas datas, dou oportunidade ao leitor de “refrescar” a memória, transportando-o ao tempo do episódio já começado.

Aqui, eu equiparo este “dilema” com aquela situação do “homem, com um lobo, uma ovelha e uma couve” pertenças do homem, que, forçosamente tinha que atravessar o rio de uma margem para a outra, numa canoa onde, á vez, só poderia ir ele e uma das suas pertenças. “Ou homem e o lobo; ou homem e a couve; ou, homem e a ovelha”. Não sei se o leitor está a “ver” bem – mesmo que através destas linhas – o dilema do homem! Se atravessasse ele e o lobo, a ovelha poderia comer a couve. Se atravessasse ele e a couve, o lobo poderia comer a ovelha. Mas, se atravessasse ele e a ovelha, não se acredita que o lobo viesse a comer a couve.

Assim parece ser, se assim fosse. Mas não é! Ou se é, não acaba ali o dilema do homem. Portanto a solução foi…

…experimente o leitor e, quando – simbolicamente falando – “atravessar” pela primeira vez junto com a ovelha, regresse para levar a couve ou o lobo consigo, regressando novamente para atravessar com o último dos seus haveres.

Se reparar bem, ao regressar a primeira vez, depois de ter levado a ovelha consigo, esta fica sozinha mas, ao regressar a segunda vez, depois de levar a couve ou o lobo, tanto a ovelha pode comer a couve como o lobo pode comer a ovelha, ao regressar a terceira vez! É certo ou não é certo? Portanto, a solução não é assim tão fácil. É possível, mas não é fácil.

Um dilema similar ao do homem, tenho eu em certas passagens do livro quando me encontro numa encruzilhada de temas entrelaçados uns nos outros, obrigando-me a deixar algum a meio, na tentativa de realçar algum ponto que se sobreponha ao tema em discussão. Espero que compreendam o quero dizer e onde quero chegar.
Deste modo, tentando dar uma “luzinha do que acaso fique pendente” quando voltar ao mesmo tema, faço referência á data do episódio, de modo o leitor “apanhar o fio da meada” e ser transportado ao tempo, do tema em questão, como já disse antes.
Por exemplo: É possível que refira por mais que uma vez, que… “estamos a 10 de Setembro de 1974” - data da independência da Guiné e nascimento da Bissaulónia” ou “estamos a 21 de Março, de 1975 - um dos anos mais difíceis da minha estadia na Guiné e, diria mesmo na minha vida - data em que, tropas do PAIGC prenderam 4 empregados meus, em frente do meu nariz (10), aos quais eu tinha dado trabalho após terem sido desmobilizados, depois de forçados a entregar as armas, com as quais, tinham lutado lado-a-lado das nossas tropas, servindo a nossa bandeira (11).
  
Finalmente, creio que como introdução descritiva de alguns pontos que considerei necessário fazer, já foi dito o suficiente e, como tal, termino, convicto que os leitores irão gostar imenso de ler este livro, fazendo votos sinceros de uma agradável leitura, começando pelo 1º capítulo, intitulado “Os primeiros passos de Bissaulonia”. Que tenham uma boa leitura, são os meus votos.

Mário Tito


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