MEU PROXIMO LIVRO "BISSAULONIA"
DUAS
PALAVRAS SOBRE “BISSAULONIA”.
“Bissaulonia” é o
título escolhido para este livro onde, entre outras coisas, procuro fazer uma
pequena homenagem a todo o simpático povo da Guiné Bissau, terra onde vivi
cerca de 14 anos e ½ e onde, apesar de vários "dissabores" e
dificuldades de toda a ordem, passei os dias mais felizes da minha vida.
De facto, e apesar de viver nos Estados Unidos há cerca de 33 anos, á data de
Abril de 2014, ainda está para chegar o 1º dia em que, aqui nos EUA - socialmente
falando - possa ser considerado mais bem passado que qualquer dos dias que
passei na Guiné, antes ou depois da independência, mesmo no período de guerra,
“graças” - diria eu – á simpatia do povo
da Guiné e á “magia” ambiental que a própria terra nos oferece, o qual, tanto o
povo como a terra, não posso de deixar de recordar, com muito carinho e
profunda saudade.
Uma terra onde “um
não sei quê de mítico”, parece apoderar-se das nossas almas, sem nos darmos
conta, deixando-nos como que “enfeitiçados” pelo carisma e amizade espontânea
de que somos alvo, mesmo que sejamos desconhecidos. Uma terra onde, “ter
dinheiro será por certo sempre agradável mas, ter amizade é muito melhor ainda.
Uma terra onde, quando se oferece algo a alguém, se recebe em troca
muito mais, na forma de amizade. Uma terra onde, se um carro avaria no
meio da floresta, logo aparecem “mãos magicas” e esforçadas, vindas não se sabe
de onde, para ajudar. Uma terra onde, o “ser humano está mais perto de
si mesmo, sendo, por isso, mais humano. Uma terra onde, a miséria é
riqueza! Outro tipo de riqueza mas que, nem por isso deixa de ser riqueza. A riqueza
da amizade; a riqueza da compreensão; a riqueza da entreajuda; a riqueza
imaterialista e inocente; a riqueza dos seres humanos; no fundo, a riqueza
dos pobres que, em conjunto com a abundancia do Sol de Inverno e as
chuvas de Verão, formam um complemento de uma riqueza natural, á esperta
do despertar “milagroso do progresso”, na esperança de melhores dias, para o
bem-estar de todo o povo guineense que, aqui nestas linhas, carinhosamente “rebaptizo”
como povo “Bissauloniano”, juntando muitos votos de p.p.p. a todos!
Paz! Progresso!
Persistência!
Mário Tito.
DECLARAÇÃO
Aqui, nestas linhas, não procuro
justificar actos de ninguém. Nem os meus nem os dos outros. Tão-pouco procuro
acusar quem quer que seja. Somente procuro relatar factos e episódios
reais. Não procuro ser perfeito e exacto, embora procurando ser o mais concreto
e objectivo possível, nos tópicos em questão. Não procuro corrigir o
passado, nem tentar mudar o futuro. Procuro opinar livremente com a verdade,
tal e qual como é vista por mim, numa tentativa de poder preservar a “amizade e
a compreensão”, entre os povos envolvidos.
No entanto, reeconheço que, o uso de algumas frases
aparentemente menos elogiosas, poderão parecer ser “ofensivas” para alguns dos
leitores, embora não seja essa a minha intenção. No entanto, se tal suceder,
chamo a atenção dos leitores para o facto que, tais “frases” só se
encaixarão a alguns dos “objectivados”
se, as suas atitudes e acções destes tidas ou feitas na ocasião, se enquadrarem na descrição das
mesmas frases. Repito que… esta não é a minha intenção porque, se houver algo
ou alguém a condenar, que sejam os outros fazê-lo e não eu.
O meu
“turno” acabou num longínquo dia de agosto de 1981, a bordo do avião da TAP,
acabado de levantar voo de Bissau, quando da minha última saída da terra que
considerava - e considero ainda - a minha segunda Pátria e que, com uma
sensação estranha invadindo todo o meu ser, algumas lagrimas furtivas nos
olhos, junto com um nó na garganta e um aperto no peito, tentava ser forte,
numa tentativa de esconder as saudades que já se faziam presentes, mesmo que
tivesse apenas uns escassos minutos apos a partida para sempre.
Quisera que assim nao tivesse sido, ams foi!
Saudades da terra onde fui
feliz. Saudades da terra onde, a esperança, um dia foi minha companheira
de decisões menos certas, mas que, na ocasião, por acreditar nas novas
autoridades, foram tomadas. Saudades da terra onde nasceu a minha
querida e única filha. No fundo, saudades da amizade e simpatia de que
fui alvo por parte da maioria do povo da Guiné, com o qual convivi e que, com o
tempo se foram acumulando, deixando aos destinos da vida, a circunstancia de
nunca mais lá ter regressado.
Assim é, porque assim foi!
No entanto, e continuando a tentar justificar
qualquer possível interpretação sobres as referidas “frases”, permito-me dizer
que, tratando-se de desabafar e relatar certos episódios – e em nome da verdade
– espero a compreensão da maioria dos leitores que, dizendo a verdade, sou forçado a referir que, a ingratidão; a arrogância; a prepotência e o abuso, prática de
alguns elementos empoleirados no poder na ocasião dos acontecimentos descritos - se bem que não deva ser “mapiado” como a norma existente num país ou num povo - não
poderei de modo algum deixar de recriminar os autores de tais atitudes para
comigo, considerando a forma como eu tinha lidado com as populações locais, até
ali.
Neste ponto, considero que, os autores de tais actos, pela sua total falta
de preparação para decifrarem “o bom do mau”, e pela “fraqueza da sua razão”,
faziam-se fortes através da sua arrogância. Sempre assim foi e,
lamentavelmente, tudo indica que sempre assim será, nos quatro quadrantes do
mundo. Por ser verdade, assim o declaro, mantendo a minha intenção inicial em
prol da amizade e compreensão, ilibando os inocentes que, felizmente, foram e
são a maioria.
Com
isto, convido os leitores a lerem estas linhas com uma mentalidade “aberta e sóbria”,
livre de qualquer preconceito racial.
Sinceramente,
Mário Tito.
OBJECTIVO
A intenção destas linhas, tem
como objectivo principal, satisfazer um pedido de vários ex-camaradas de armas,
os quais, na sua grande maioria, prestaram serviço militar, na então chamada
Guiné Portuguesa, hoje um novo país, conhecido como Guiné Bissau.
Uma das razões, assenta no
facto que, enquanto muitos destes meus camaradas fizeram uma comissão de
serviço (1) que, normalmente, rondaria
os 24 meses, sabe-se lá em que local do teatro de guerra, quantas vezes em
risco constante da própria vida, eu, considerando-me um “sortudo”, que nem uma
pistola tive distribuída, acabei por ficar na Guiné, após cumprida a minha
comissão de 19 meses e 10 dias bem contados, com “risquinhos” mensais e tudo,
no cinto – cópia fiel do uso e costumes de outros camaradas de armas – ao
serviço da Força Aérea Portuguesa, inicialmente destacado na messe de sargentos
e, posteriormente, na messe de oficias, no coração da cidade de Bissau.
Entretanto, á medida que o
tempo ia passando, eu fui adquirindo uma certa simpatia pelos guineenses,
devido ao carinho que os mesmos demonstravam ter para comigo, tanto na messe de
sargentos, por onde tinha passado no 1º mês, logo após a minha chegada á Guiné,
como na de oficiais, onde me encontrava na ocasião de passar á disponibilidade,
ao ponto de, já na recta final da minha comissão, insistirem para que eu não
regressasse á “Metrópole” - tal como era denominado na ocasião, o nosso querido
Portugal.
Portanto, perante esta “onda
de carinho” e, perante uma boa oportunidade de emprego que, entretanto, tinha
surgido num novo local, previsto a abrir nos dias próximos á minha passagem “á
disponibilidade”, (a cervejaria-restaurante Sol-mar) decidi mesmo não regressar
a Portugal, mesmo que fosse na intenção de ser somente temporariamente, por um
par de meses, enquanto endireitava as minhas finanças que, cá para nós, andavam
pelas “ruas da amargura” e, até, com alguns “calotes” ás costas.
Entretanto, “o
par de meses”, e intenção temporária, acabou por se transformar em cerca de
catorze anos e meio, proporcionando-me a oportunidade de ser “testemunha”
voluntária (2) do desenrolar de
vários acontecimentos, nunca ao alcance destes meus camaradas.
No entanto, apesar de ter
havido “episódios” espalhados por toda a Guiné, obviamente, só me é possível
referir, aos episódios “centralizados” na área de Bissau e vizinhanças
limítrofes, tendo em consideração que, era aí que eu me encontrava,
“abrangendo” parte do período de guerra, desde a minha chegada a 17 de Maio de
1967, até ao dia da independência da Guiné, oportunidade que só os presentes na
ocasião, puderam testemunhar – uns num local e outros noutro. Uns de uma forma
e outros doutra. Eu, como já disse, estava em Bissau.
Portanto, no que me diz
respeito, além do período pré independência que refiro, tive a oportunidade de
assistir – para bem ou para o mal – a toda uma mudança da conjuntura social e
política que passou a vigorar na Guiné, após a independência e durante cerca de
7 anos depois. De facto, só saí definitivamente da Guiné, em Agosto de 1981.
Como tal, desde Setembro de 1974 a Agosto de 1981, são quase 7 anos, como já
disse. Seis anos e 11 meses, mais precisamente.
Deste modo, perante esta
certeza e estes factos, creio ser mais que lógico a existência de uma certa
“curiosidade” por parte destes meus camaradas, em quererem saber como “foi
aquilo” depois da partida deles ou, mais englobante, como “foi aquilo”, depois
da independência.
É pois, com grande prazer
pessoal, que tenho a honra de tentar satisfazer esta curiosidade, relatando o
que quer que seja que haja a relatar, o mais realisticamente possível e o
melhor que a minha memória me permite, pedindo desculpa a todos, se acaso não
consigo satisfazer cabalmente a totalidade das vossas expectativas. Aqui,
nestas linhas, só digo o que sei e o que penso estar correcto, mesmo debaixo de
alguma imperfeição humana.
Deste modo, com um fraternal
abraço a todos os ex-camaradas viventes e, aos que já partiram para “o
jardim dos justos”, que a terra lhes seja leve e o sorriso das flores os embale
e ilumine, no seu “sono eterno”.
Para
a vida e para a morte, sou o sempre vosso fiel camarada, Mário Serra Oliveira -
1º Cabo amanuense nº 262/66 – ZACVG.
Mário Tito
RECONHECIMENTO
Seguidamente, e por respeito para
com o meu semelhante, independentemente de pontos de vista políticos e acções
do passado, sinto-me com o dever cívico, de prestar uma homenagem de
reconhecimento, a alguns elementos do PAIGC que, após a independência da Guiné,
fizeram parte do Governo, ou que ocuparam outras posições de liderança naquela
ocasião, com os quais tive a oportunidade e o privilégio de conviver – e até
servir - atendendo á minha actividade de comerciante no ramo da restauração, os quais,
na sua maioria, de uma forma ou de outra, foram muito atenciosos para comigo (3). Nem todos, mas uma boa maioria.
Procurarei também, separar o
“trigo do joio” entre estes últimos homenageados e outros protagonistas ligados
ao PAIGC porque, efectivamente, como já disse, nem todos aqueles com quem
convivi – independentemente do cargo que acaso ocupassem na ocasião – usaram a
mesma cortesia, o mesmo respeito e a mesma justeza, na suas lides diárias ou
ocasionais para com a minha pessoa.
De facto, por parte de alguns
destes, aos quais farei referência dos seus actos e atitudes noutra secção
destas linhas, se acaso houve algum excesso ou empenho, foi de “abuso e
prepotência”, numa tentativa de dificultarem o mais possível a minha vida, bem
como a da minha família. O porquê, só eles o saberiam ou, como sempre
desconfiei, só eles teriam em mente um determinado objectivo - político ou não
- aberrantemente paupérrimo que, quanto a mim seria…que eu desistisse de “remar contra a maré”, e entregasse os meus negócios
– gratuitamente – ao estado (4). Este era o objectivo.
Só que se esqueceram de ter em
conta o “material” de que é feito a minha caixa encefálica, geneticamente
herdada da “forma de ser” da minha querida mãe, de uma índole indomável,
perante a razão e em face da prepotência mas, ao mesmo tempo, capaz de tirar a
camisa do corpo para dar ao seu semelhante, se este necessitar e a merecer. De
facto, conversando a bem, até talvez fosse possível os objectivos deles serem
realizados mas, a mal, nunca. Só morto!
No entanto, nesta secção,
tratando-se de um espaço dedicado a uma homenagem, permitam-me seguir adiante,
concentrando-me em alguns dos nomes que considero merecedores de reverência, a
quem, com toda a minha sinceridade, presto uma póstuma homenagem aos já
falecidos e, aos ainda vivos – se os houver, depois de tantas escaramuças políticas
naquela pobre Guiné Bissau – apresento os meus mais profundos e sinceros
agradecimentos.
Deste modo, cada qual pelo seu
motivo mas, todos pela sua atenção, boas palavras e cortesia, aqui ficam os
nomes e cargos que ocupavam na ocasião, de todos os que a minha memória permite
recordar com agrado e profundo reconhecimento, pedindo desculpa por se acaso a memória
me atraiçoa, esquecendo-me de mencionar algum outro nome.
Temos: - Laurentino Lima Gomes, comissário das obras públicas; Francisco Mendes, também conhecido como
“Chico Tê”, 1º ministro, mais tarde
assassinado; Armando Ramos, comissário
do comércio; José Pereira, comissário
da segurança social; Juvêncio Gomes,
presidente da camara municipal de Bissau; Victor
Saúde Maria, comissário dos negócios estrangeiros; Manuel Saturnino, cuja posição não recordo; Marcelino Lima, director dos armazéns do povo; um tal senhor ou
camarada – como lhe queiram chamar - Embaló,
cujo nome completo não recordo, director da Dicol (antiga Sacor); José Carlos Schwartz, cuja posição que
ocupava desconheço mas que, a título pessoal, era membro do conjunto musical
Cobiana Djazz, autor e poeta, falecido num trágico (5) acidente de aviação em
Cuba; Carlos Gomes Júnior, (Cadogo), na ocasião, um cliente assíduo
igual a tantos outros e que, entretanto, muitos anos depois, foi 1º ministro da
Guiné, e outros que, de um modo geral, foram muito corteses para comigo e minha
família.
Aos já falecidos, que a terra
lhes seja leve. E, aos ainda viventes, aqui fica mais uma vez, o meu sincero e
honesto agradecimento por tudo quanto fizeram e disseram, para aliviar as
incertezas que “pairavam” no ar a cada instante.
Os nomes daqueles que foram
uma espécie de “carrascos” para comigo, não têm lugar aqui nesta secção, em
respeito aos acima homenageados, numa tentativa de não misturar “o bom com o
mau”, separando com isso, o “trigo do joio”, conforme prometi anteriormente. No
entanto, cada qual a seu tempo, será alvo de referência, quando chegar o momento
de relatar os episódios em que tristemente estiveram envolvidos contra mim.
Ao mesmo tempo, antes de dar
início aos capítulos que irão fazer parte do “corpo principal” deste livro, não
poderia deixar de fazer também, uma singela homenagem, a todos os milhares
dos meus camaradas ex-combatentes das Forças Armadas de Portugal, que prestaram
serviço no chamado “ultramar português” durante as guerras de libertação das
ex-colónias, tendo em especial consideração, os milhares de camaradas que, no
conjunto geral, uns numa ocasião e outros noutra, passaram pela então chamada
Guiné Portuguesa, numa comissão de serviço que, normalmente, rondaria os 24
meses como já disse, a quem estas linhas são dedicadas.
Até lá, aqui fica esta singela
homenagem aos que, por bem serviram e, em 1º lugar mais uma vez, todos os meus
camaradas de armas e, por bem fazerem, aos acima referenciados. TODOS ELES, por
direito e consideração, dignos ILUSTRES desta homenagem.
Sinceramente.
Mário Tito
NOTA
DO AUTOR
Aqui, permitam-me referir que,
através do progresso da leitura destas linhas, os leitores irão notar que,
certos episódios aqui relatados, são descritos numa linguagem sem rodeios e sem
preconceito algum, considerando que, ao pretender ser eu mesmo,
não hesitarei um segundo em chamar os protagonistas de certos acontecimentos e
episódios onde estive envolvido, pelo nome que considero apropriado, reflectivo
do meu estado de espírito na ocasião, sem que, com isso, a qualquer referência
pessoal a estes indivíduos, seja considerada extensiva a mais alguém, além dos “atingidos”
ou referenciados. De modo algum, é minha intenção ofender quem
quer que seja, generalizando qualquer “palavra” mais descritiva da minha
opinião para com os indivíduos em causa.
Quem mal não me fez,
mal não deve esperar de mim.
Aqui, tudo o que eu disser, é
o fruto da emoção da ocasião, perante a incerteza reinante, pela raiva contida
dentro de mim, devido á autocrática atitude de alguns dos elementos envolvidos,
numa demonstração de ingratidão total para com quem confiou cegamente
que, valeria a pena arriscar e ficar por ali, no meio do povo da Guiné, o qual
sempre respeitei e respeito profundamente, na esperança que poderia servir de
um exemplo de boa convivência, onde os meus serviços fossem úteis e
apreciados, esperando como reconhecimento, o respeito e a amizade, nada mais.
Infelizmente, a esperança despertada
em mim, quando fiz a decisão que fiz, em ficar por ali, foi atraiçoada, deitada
por “água-abaixo”, não por “obra e graça” do povo da Guiné, mas sim por “obra,
abuso e prepotência total” de meia dúzia de “energúmenos mal paridos”.
Como já disse, não procuro
“ofender” ninguém, nem tão-pouco, agradar a ninguém. Não tenho “feitio” para
fingir, a não ser em casos de extrema gravidade onde, por exemplo, “ao dizer-se
a verdade” se possa causar danos ou emoções pessoais irreparáveis. Aqui, nestas
linhas, não será esse o caso e, como tal, limitando-me a ser “eu mesmo”, como
já disse, não hesitarei um “iota”, em tentar “pegar o touro pelos cornos”.
O touro, aqui, poderá ser
considerado a situação de alguns “seres humanos” que, pela sua origem genética,
possam ser - ou parecer ser - alvo de possíveis referências menos “elogiosas”
da minha parte, devido às circunstâncias da vida, que os colocou na “linha de
fogo” dessas possíveis referências, quantas e quantas vezes sem culpa própria
de si mesmo. De facto, a existir alguma culpa em relação a alguns desses “indivíduos”,
nada terá a ver com a sua “genética ou a sua origem” mas, sim e somente, pela atitude
“desses alguns”, através da sua intervenção em episódios vários que, pela sua
complexidade, não adianta mencionar aqui, nesta secção.
O que quero dizer com isto, é
o facto que, por exemplo, enquanto há pessoas que se “encolhem” em não fazer
referências ao aspecto “racial ou étnico”, de uma determinada forma, para não
“levantarem pó”, devido á sensitividade relacionada com este aspecto
“sociológico” – normal, diria eu – como, por exemplo, “terem acanhamento em “referir-se
directamente” que… “preto é preto”, “branco é branco” e, “mestiço é mestiço”, sendo
que, na realidade, não deveriam ter preconceito algum nesse aspecto, sempre e
quando o respeito seja frontal e norma no trato entre os mesmos… porque,
efectivamente, não deixam de ser todos seres humanos, em igualdade de
circunstâncias. Havendo respeito de trato, a cor da pele de uns ou de outros, passará
para segundo plano ou deixará mesmo de existir por completo, sendo um tema sem
significado entre seres humanos que se respeitam.
Quem faz o caracter do ser
humano não é, por certo, a “cor da pele do preto, do branco ou do mestiço” mas,
sim, a forma de ser de cada quem, bem como o relacionamento de cada um
dos “portadores da cor da pele em questão”, em relação aos outros seres
humanos, seja nas lides do dia-a-dia, ou seja pelas suas decisões quando em
posição de as tomar, em relação aos “portadores” de uma tese de pele – ou
nacionalidade - diferente da sua.
Por isso, qualquer referência,
aparentemente “negativa”, que acaso eu venha a fazer aqui, nalgum lado nestas
linhas, nada tem a ver com o facto da “pessoa-alvo” dessa referência, seja
“preta, branca ou mestiça”. Se refiro “este aspecto” é somente para ir de
encontro “á verdade” sobre, “quem, como e porquê”, fez ou deixou de fazer,
fosse o que fosse em relação á minha pessoa. As minhas referências, tipo
“queixas ou desabafos”, são dirigidas ao ser humano e não “à pigmentação da
pele” de quem quer que seja. Qualquer referência á cor da pele, e só isso
mesmo. Referência e não acusação.
Que
fique bem claro, na mente de todos os leitores.
Depois, há ainda aquelas
circunstâncias que leva determinadas pessoas a pensarem que podem
“pensar pelos outros” (6), quando,
na verdade, é muito possível que, as pessoas sobre quem “estas” pessoas pensam
da forma como pensam, poderem vir a pensar totalmente diferente, pensando por
si sós…livremente e sem a interferência de estranhos. Confuso? Talvez…mas a
culpa não é minha. Pensassem todas as pessoas “razoavelmente” e sem
preconceitos, talvez eu não tivesse que fazer este esclarecimento tão
pormenorizado.
Com isto, a referência feita
mais adiante a pessoas “mestiças” originárias de Cabo Verde, não significa
qualquer animosidade para com os “cabo-verdianos” em si mesmo mas, sim e somente,
serve para ilustrar um problema existente, amplamente do conhecimento publico,
no que concerne ao relacionamento entre “guineenses e cabo-verdianos” na ex. Guiné
Portuguesa, agora Guiné Bissau. Mais adiante, os leitores irão ter a
oportunidade de se dar conta do que aqui tento explicar.
Mas, levantando um pouco “o
véu” sobre o tema, referir-me-ei apenas aquela espécie de “romanticismo”
existente ainda nos dias de hoje - de uma forma exagerada quanto a mim - á
volta de toda a figura de Amílcar Cabral, proclamado fundador (7)
do PAIGC e, principal dinamizador da luta armada para libertação da Guiné e
Cabo Verde.
Sim! De facto foi bastante influente
mas, de modo algum foi o único!
Como tal, dando mérito ao seu dono
- porque o teve - em nome da verdade, devemos também dar “a Pedro o que é de Pedro, e a Paulo o que é de Paulo” atendendo a
que, por muita influência que Amílcar Cabral possa ter tido em todo o processo
da luta pela independência da Guiné, o certo foi e é que não foi o único.
Factos aos factos. E não foi o único nem poderia ter sido, se considerarmos que,
uma “aventura daquelas”, como lutar pela dignidade de um povo, requeria muito
mais do que o envolvimento de uma só pessoa. Mas enfim… o que está dito, dito
fica. Não serei eu a contradizer esse ponto. Aqui, só dou a minha opinião.
No entanto, considerando que todos
os romances “são bonitos”, o certo é que, na minha opinião, todos pecam pelo
exagero na “mistificação” de alguns dos seus personagens principais. Porquê?
Pois, em parte porque, nenhum destes personagens foram ou são “perfeitos seres
humanos” e, como tal, poderão estar recheados de imperfeições e julgamentos
menos afortunados, completamente fora da realidade (8). E, aqui, Amílcar Cabral não deveria escapar a esta regra
d’ouro que, por não ser da minha autoria, deverá ser aplicável a todo o ser
humano.
Finalmente, nesta nota,
permitam-me referir também que, pela minha educação (4ª classe, á idade de 11 anos e, mais tarde, já com cerca de 50 anos,
a equivalência ao 12º grau, sem cursos superiores… além do “mestrado” da mundialmente afamada universidade da “pdv” – creio que, se juntarmos a isso, a longa ausência da “Mãe
Pátria”, os leitores não deveriam esperar de mim, que vos apresentasse aqui um
texto sem erros verbais ou literários.
Mais! Atrevo-me a dizer que, até
seria um erro, se erros aqui não houvesse porque, conforme diz um dos meus
“slogans”...
“a minha imperfeição,
é o que faz de mim, um perfeito cidadão”.
Deste modo, sendo
cronologicamente o 5º filho, de um conjunto de sete, de uma das famílias mais
pobres da minha aldeia – o Alcaide, situado na encosta Norte da serra da
Gardunha, “capital da minha constante saudade
e sombra que me acompanha 24 horas por dia” - qualquer expectativa, por
parte dos leitores, de virem aqui encontrar uma linguagem “polida”, com frases
compostas para “agradar á plateia” e, portanto, uma linguagem “falsa e
disfarçada” das mazelas literárias do autor, sem “defeitos linguísticos”, estão
redondamente enganados.
Aqui, tal como numa feira de burros…
“o animal que vêem, é o animal que
compram” porque, para mais não deram, e só a tanto chegaram, os meus parcos
conhecimentos. Tudo o que aqui for escrito, será só e somente da minha
responsabilidade, sem interferência alguma de outrem, (9) tanto para o bem como para
o mal.
De um modo geral, o que aqui for
escrito, reflecte o que a linha de pensamento do “meu ser” exige que escreva,
saindo “directamente” das profundezas das minhas entranhas, às vezes… sentindo raiva
de mim próprio, perante tanta “falta de saber” mas que, no fundo, me deixa feliz
da vida, pela teimosia em insistir e “atrever-me”, a mais uma aventura
literária, para a qual sinto que nasci mas que, as “fortunas da vida” não me
prepararam convenientemente.
É, como tentar “remar” contra a maré,
sem marinheiro nunca ter sido.
Permitam-me recordar ainda que,
o meu 1º livro, solo da minha autoria, já foi publicado pela editora do Chiado,
cujo título é…. “Palavras de um defunto,
antes de o ser”. É um livro misto, baseado em episódios de ficção e factos
factuais, descritos de uma forma humorística. E, á data destas linhas,
participei ainda, de uma forma conjunta –
como co-autor – em três outros livros de poesia, publicados pelas editoras
“edições e-copy” o 1º e, editora do chiado, o 2º e 3º. É tudo, nesta nota.
Mário Tito
INTRODUÇÃO
Conforme o título deste livro
indica, a cidade de Bissau é a protagonista-principal, sobre a qual, o titulo
deste livro foi inspirado, tendo como referencia os períodos de “antes e depois
da independência”, em relação às mudanças “visualizadas” pela minha pessoa, no
que concerne á composição da “textura humana” da cidade, desde a data da minha
chegada a 17 de Maio de 1967, e o período pós independência – 10 de Setembro de
1974 - sem que, com isso, me venha a envolver demasiado a descrever todo o passado
da mesma, nem tão-pouco descrever a origem dos vários povos que ocuparam a zona
da ilha de Bissau, anteriormente á chegada dos portugueses, incluindo episódios
de resistência desde o início da ocupação do território, que é hoje conhecido
como Guiné Bissau.
Este aspecto, se bem que, aqui
e ali, poderá ser alvo de alguma referência, não faz parte da minha intenção
inicial. E, se acaso alguma referência vier a fazer, será mais para “realçar”
qualquer outro ponto que queira chamar á atenção, tal como o facto que, na
verdade, vários foram os povos que “povoaram a Guiné Bissau” e que,
periodicamente travaram lutas entre si, incluindo a união de forças contra o
último dos ocupantes - os portugueses. De facto, quase que se poderia dizer
que, desde a chegada dos portugueses, sempre existiu alguma determinada forma
de “resistência”.O título, é ainda inspirado na “base” das drásticas mudanças feitas pelas autoridades locais pós independência, com decretos e leis desconhecidas de todos - excepto os que as decretaram, até serem implementadas de um modo “punitivo”, sem qualquer condescendência pelo desconhecimento de tais leis, com um impacto tremendo no dia-a-dia da vida quotidiana e financeira de cada quem, logo após a independência, em detrimento do modo de vida local, bem como nas perspectivas de se poder exercer uma actividade comercial livre e promissora, que incutisse esperança no futuro.
Contudo, e dando seguimento, a ideia deste livro tem por base a descrição de Bissau, perante a minha própria percepção ou óptica visual de modesto observador, adquirida logo aquando da minha chegada á Guiné, em comparação com a radical transformação notada, após a independência. Mas, francamente, reconheço que até poderei cometer algum erro de análise na minha “observância”, quando comparada com o título que escolhi para este livro, pelo que, se assim for, mais uma vez junto a “referência feita antes” na nota de autor, onde tento alertar para qualquer imperfeição literária, considerando a minha pobre preparação nestes “meandros” de escrever para o público.
Entretanto, como irão notar, eu irei recorrer por mais que uma vez, a frases de chamada de atenção para determinadas datas, tal como dizer… “estamos na data tal e tal, do ano tal”, devido a que, o desenrolar da descrição de certos episódios, se entrecruza com outros de mais prioridade ou necessitados de uma explicação mais pormenorizada. E, quando assim acontece, é possível que o episodio deixado para trás, não seja terminado no mesmo capítulo onde teve início.
Faço esta mudança, na intenção de não “enredar
o leitor” na leitura de “dois temas” ao mesmo tempo, correndo o risco de ficar
perdido no meio da leitura do que quer que seja e, com isso, não se encaixar
bem nos episódios em discussão. Sinceramente, penso que com o uso de “chamada
de atenção” para determinadas datas, dou oportunidade ao leitor de “refrescar”
a memória, transportando-o ao tempo do episódio já começado.
Aqui, eu equiparo este “dilema” com aquela
situação do “homem, com um lobo, uma ovelha e uma couve” pertenças do homem, que,
forçosamente tinha que atravessar o rio de uma margem para a outra, numa canoa
onde, á vez, só poderia ir ele e uma das suas pertenças. “Ou homem e o lobo; ou homem e a couve; ou, homem e a ovelha”. Não
sei se o leitor está a “ver” bem – mesmo que através destas linhas – o dilema
do homem! Se atravessasse ele e o lobo, a ovelha poderia comer a couve. Se atravessasse
ele e a couve, o lobo poderia comer a ovelha. Mas, se atravessasse ele e a
ovelha, não se acredita que o lobo viesse a comer a couve.
Assim parece ser, se assim fosse. Mas não é! Ou
se é, não acaba ali o dilema do homem. Portanto a solução foi…
…experimente
o leitor e, quando – simbolicamente falando – “atravessar” pela primeira vez
junto com a ovelha, regresse para levar a couve ou o lobo consigo, regressando
novamente para atravessar com o último dos seus haveres.
Se reparar bem, ao regressar a primeira vez,
depois de ter levado a ovelha consigo, esta fica sozinha mas, ao regressar a
segunda vez, depois de levar a couve ou o lobo, tanto a ovelha pode comer a
couve como o lobo pode comer a ovelha, ao regressar a terceira vez! É certo ou
não é certo? Portanto, a solução não é assim tão fácil. É possível, mas não é fácil.
Um dilema similar ao do homem,
tenho eu em certas passagens do livro quando me encontro numa encruzilhada de
temas entrelaçados uns nos outros, obrigando-me a deixar algum a meio, na
tentativa de realçar algum ponto que se sobreponha ao tema em discussão. Espero
que compreendam o quero dizer e onde quero chegar.
Deste modo, tentando dar uma
“luzinha do que acaso fique pendente” quando voltar ao mesmo tema, faço
referência á data do episódio, de modo o leitor “apanhar o fio da meada” e ser
transportado ao tempo, do tema em questão, como já disse antes.
Por exemplo: É possível que
refira por mais que uma vez, que… “estamos a 10 de Setembro de 1974” - data da
independência da Guiné e nascimento da Bissaulónia” ou “estamos a 21 de Março,
de 1975 - um dos anos mais difíceis da minha estadia na Guiné e, diria mesmo na
minha vida - data em que, tropas do PAIGC prenderam 4 empregados meus, em
frente do meu nariz (10), aos quais
eu tinha dado trabalho após terem sido desmobilizados, depois de forçados a
entregar as armas, com as quais, tinham lutado lado-a-lado das nossas tropas,
servindo a nossa bandeira (11).
Finalmente, creio que como introdução
descritiva de alguns pontos que considerei necessário fazer, já foi dito o
suficiente e, como tal, termino, convicto que os leitores irão gostar imenso de
ler este livro, fazendo votos sinceros de uma agradável leitura, começando pelo
1º capítulo, intitulado “Os primeiros passos de
Bissaulonia”. Que tenham uma boa leitura, são os meus votos.
Mário Tito